20 de janeiro de 2011

Investimento a longo prazo - Fábio Gouveia

(Texto extraído do site Waves)

O circuito mundial hoje está diferente da época em que iniciei. Primeiro ocorreu a divisão que formou o WQS e o WCT em 1992. Pelo que lembro, o intuito era agregar mais dinheiro ao esporte, reduzir os dias de provas, elitizá-lo e também torná-lo mais competitivo.

Mas isso não impede que atletas tenham carreiras satisfatórias, deixem de ser ídolos e incentivem outras gerações. Pelo aumento da longevidade no esporte e das dificuldades de chegar a um WT por exemplo, alguns anos podem ser o preço na busca do objetivo. O normal é que pelo menos no geral, salvo algumas excessões, atletas que ingressam nos eventos do Star, gastem pelo menos três anos para atingirem o WT.

Sei que existem empresas às quais apenas atletas de ponta ou aqueles que estão sempre vencendo interessam, porém em alguns casos os atletas podem se dar bem em um prazo maior. Às vezes esta é minha preocupação, quando excelentes atletas em nosso país ficam sem patrocínio e acabam abandonando suas carreiras sem ter tempo para realmente mostrar ou desenvolver o potencial.

“Surfisticamente” falando também, acho muitíssimo positivo os atletas permanecerem em empresas que os patrocinaram durante suas carreiras, exercendo outras funções. No mínimo como embaixador da marca. Quantas marcas podem contar uma história de um surfista que teve uma parceria duradoura? Podemos contar nos dedos? Vai dizer que isso não é legal? E um Tom Curren de volta a uma Rip Curl? Significa algo? Claro, “surfisticamente” vendo o fato, achei demais e penso que a marca deu um pulo na época. O público leigo não observa isso, mas tratando-se de um esporte tão diferente em seu estilo de ser, isso vale muito.

Alguns ex-atletas já trampam em marcas no Brasil e aqui vai um “salve” para todas elas. Vale ressaltar que tivemos duas perdas de empresários com a alma do esporte na década de 90 e que não chegaram a completar o ciclo de seus atletas em época crucial.

Eu não tenho do que reclamar, pois as empresas que me patrocinam vêm enxergando esse valor, sou muito agradecido. Mas não é o caso de alguns amigos de profissão, que ao finalizarem suas carreiras, ou por aposentadoria, ou simplesmente por falta de apoio no momento que ainda poderiam “surfar muitas ondas”, tiveram que mudar de ramo depois de terem investido vários anos de suas vidas no esporte.

Os ídolos no nosso país precisam ser preservados e as marcas podem a longo prazo ter seus retornos.

Viva o surf brasileiro!

Fábio Gouveia

Timótheo Batista