3 de fevereiro de 2011

Vão os anéis, ficam os dedos

Essa frase serve para começar a discutir o legado da Copa-2014 do Rio-2016. O Brasil inteiro está passando, ou passará, por mundanças para abrigar o mundial e as olimpíadas. Mas será que a população, de fato, vai disfrutar dos benefícios desses eventos?
A dúvida está semeada em vários campos, desde capacidade de hospedagem até o prazo de finalização dos estádios. É difícil acreditar que o planejado vai sair do papel! E não estou sendo pessimista, tem uma lista de gente bastante capacitada que também está desconfiada.
O engenheiro José Bernasconi - presidente da regional
paulista do Sindicato de Arquitetura e Engenharia (Sinaenco-SP) - já mudou seu discurso. No fim de 2009 em entrevista à revista Valor Especial, Bernasconi estava ansioso para ver o leilão do trem-bala, a construção da arena de São Paulo e a modernização dos aeroportos, dentre outros avanços.
Já no começo desse mês, ele mudou a linha, já afirma que o legado deixado pelos eventos serão menores pois perdemos muito tempo. O que é verdade, não foi feito o leilão o trem-bala, os aeroportos não foram reformados e a cidade de São Paulo continua sem estádio. A presidente recentemente anunciou um pacote de reformas e privatizações para alguns aeroportos, mas pode ser tarde demais, até porque o cronograma ainda não foi divulgado.
Agora a arena de Itaquera é qu
e será realmente um problema. Existem dois orçamentos, caso a capacidade do estádio seja de 45 mil pessoas, o orçamento gira em torno de R$ 650 milhões. Mas o Corinthians anunciou que quer sediar o jogo de abertura, o que exigiria uma ampliação da capacidade para 65 mil pessoas. Entretanto, o clube ainda não conseguiu investidores para financiar essa ampliação. O clube ainda busca uma empresa que compre o naming rights, que batize o estádio por um espaço determinado de tempo. Mas o clube precisa agregar valor a empresa parceira e depois da eliminação de ontem e da violência e depredação generalizada de ontem, vai ficar ainda mais difícil. Isso sem nem levar em conta uma análise específica de marketing e retorno financeiro.
Só para finalizar o tem estádios, hoje o Comitê Organizador Local (COL) fez um circuito pelos estádios de Palmeiras e São Paulo e no centro de treinamento do Corinthians, eles viram com os próprios olhos para onde está (ou não) indo a verba destinada a Copa-2014. As obras da arena de Itaquera deveria começar em março, mas o prefeito de São Paulo - Gilberto Kassab - afirma que as obras não começarão antes de maio. Haja demora! Só espero que em cima da hora não se repita a desorganização do Pan do Rio-2007, que custou R$ 3,7 bilhões, 9 vezes mais do que o orçamento inicial e 12 vezes mais caro do que o Pan de Winnipeg-1999 e Santo Domingo-2003 (revista Valor Especial Maio 2010).
A categoria hospedagem é, por muitos, considerada um problema resolvido, dizem que somos um povo hospitaleiro. Tudo bem, ate aí concordo. Mas se faltarem leitos e o caos se instalar definitivamente, essa fama será esquecida em apenas um dia. Cidades, como Fortaleza, que precisam superar a falta de leitos em hotéis, estão ampliando seus portos para receberem navios maiores, com mais leitos. A saída é arriscada, mas vale lembrar que depois da Copa-2014 o número de turistas diminuiria e a expectativa é que fique dentro da capacidade hoteleira de Fortaleza. Municípios vizinhos as cidade-sede, num raio de 150 km de acordo com a FIFA, podem servir como cidades dormitório, mas sem uma infra-estrutura permanente o investimento se torna inviável. Abram o olho! O esporte pede passagem, afinal vão os anéis e ficam os dedos... Será?

Timótheo Batista